21/11/2020 às 11h43min - Atualizada em 21/11/2020 às 11h43min
Etiópia acusa o diretor da OMS de apoiar as tropas que lutam contra o governo de Abiy Ahmed, ganhador do prêmio Nobel da Paz em 2019.
“O primeiro-ministro afirmou na terça-feira (17) que o “ato final da aplicação da lei” acontecerá nos próximos dias”.
Cristina Barroso
(REPRODUÇÃO) O Exército etíope acusou, nesta quinta-feira (19), o diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS), o etíope Tedros Adhanom Ghebreyesus, originário de Tigré, de buscar apoio e armas para esta região separatista cujas tropas lutam contra o governo federal há três semanas.
A acusação ocorre em meio a uma ofensiva militar do governo etíope na região de Tigray, onde o partido FLPT luta contra as tropas do governo.
“Este homem é um membro desse grupo e tem feito tudo para apoiá-los”, afirmou o chefe do Estado-Maior do Exército, general Birhanu Jula, em um comunicado transmitido pela televisão.
Em nota publicada nas redes sociais, Tedros Adhanom pediu paz na Etiópia e negou fazer parte de um dos lados do conflito. “Meu coração está partido pela minha casa, a Etiópia, e peço a todas as partes que trabalhem pela paz e para assegurar a segurança dos civis e do acesso à saúde e assistência humanitária aos necessitados”, disse o chefe da OMS.
Tedros Adhnom é etíope, nasceu em Tigray e foi ministro da Saúde do país (entre 2005 e 2012) e ministro das Relações Exteriores (entre 2012 e 2016) em uma coalizão governamental liderada pela TPLF.
Os líderes da Frente de Libertação do Povo Tigray (FLPT) dizem que são perseguidos pelo primeiro-ministro do país, Abiy Ahmed, e foram expulsos do governo do país.
Eleito como um “líder reformista”, o novo primeiro-ministro acusou ex-funcionários do governo de corrupção e abusos aos direitos humanos e expulsou políticos importantes da FLPT do governo.
Abiy Ahmed, que venceu o Nobel da Paz em 2019, deu um ultimato militar aos adversários. “O primeiro-ministro afirmou na terça-feira (17) que o “ato final da aplicação da lei” acontecerá nos próximos dias”.
O FLPT foi o partido dominante na Etiópia por décadas, mas tudo mudou com a chegada de Ahmed ao poder, em 2018.
Ahmed dissolveu a coalizão multiétnica que governava o país até então e criou o Partido da Prosperidade (PP), o que aumentou a tensão política.
A FLPT se opôs, alegando que a ação dividiria o país, e se recusou a fazer parte da nova aliança.
A Etiópia é o segundo país mais populoso da África, e analistas e observadores temem que o conflito armado se transforme em guerra civil.
Até o momento, centenas morreram e milhares de deslocados fugiram para o Sudão.
A ONU afirma que há uma crise humanitária plena no país, e as Nações Unidas e governos da Europa e da África pedem para que as duas partes negociem.
Várias potências mundiais, como os Estados Unidos e a China, mantêm bases militares no Chifre da África devido ao histórico volátil e à localização estratégica da região como rota comercial.
O vencedor do prêmio Nobel da Paz já afirmou que só vai negociar quando a lei for restaurada em Tigray.
Há bloqueio ao trabalho da imprensa no país, os canais de comunicação foram interrompidos e os jornalistas não podem checar as afirmações de nenhum dos responsáveis pelos conflitos.
Um porta-voz da OMS afirmou à agência de notícias Reuters que não havia comentários imediatos a fazer sobre a acusação contra o diretor-geral da organização.