21/01/2023 às 09h53min - Atualizada em 21/01/2023 às 09h53min

TERROR NO MÉXICO: Dezenas de corpos cozidos enterrados em um salão de festas

O antigo salão de festas do Estado do México, onde uma cela criminosa escondia dezenas de sacos com restos humanos. As autoridades ainda não sabem quantas pessoas acabaram enterradas ali

Marília Tanure
El País
(Reprodução)
Na semana passada, as autoridades locais anunciaram a macabra descoberta de uma enorme vala clandestina nesta sala de Tenango , um armazém, na verdade, um galpão neste pedaço de terra que não é nem país nem cidade. 

Até o último domingo, técnicos do Ministério Público local retiraram do subsolo 47 sacos com restos humanos. Até o final desta semana, uma usina de unidade, um caminhão refrigerado do necrotério e uma ambulância ainda estavam na porta. Não se sabe restos de quantas pessoas foram enterradas lá.
Uma ambulância fora do salão de festas em Tenango del Valle.ILHAS MÔNICA GONZÁLEZ

As autoridades chegaram ao galpão por acaso. Na terça-feira da semana passada, agentes da polícia estadual e do Ministério Público prenderam quatro supostos integrantes de um grupo criminoso muito ativo na região nos últimos anos em Tenancingo, município vizinho. Ao verificarem seus celulares, encontraram vídeos nos quais esses homens apareciam torturando outras pessoas. Os vídeos levaram as autoridades ao depósito, conforme informou ao EL PAÍS uma fonte próxima às investigações, que esteve no depósito na semana passada, quando chegou o Ministério Público local.

Dos quatro detidos, as autoridades apontaram um deles como seu líder, Jaime Luis "N", conhecido como El Pozolero ou El 666. Apelido conhecido no México, seu nome se refere a uma comida popular, pozole, uma sopa com grãos de milho e frango ou carne de porco. No submundo, o apelido aponta para as qualidades criminosas do possuidor, treinado para dissolver corpos em produtos químicos. 

Na ausência de novas informações por parte das autoridades, corre o boato atualmente de que El Pozolero e seus homens usaram o galpão de Tenango para esconder os corpos semi-destruídos das pessoas.
A profunda brutalidade dessa suposição, a possível descoberta de restos humanos cozidos em um antigo salão de baile, o jargão criminal usual para esses casos, dificilmente chocou um país onde a violência se tornou a paisagem. 

Ao tentar compreender os dados, o enunciado individual —um assassinato, um sequestro— perde o sentido e são impostas qualificações coletivas, como um massacre ou uma atrocidade.


No México, longe de lidar com uma atrocidade por vez, a sociedade convive com várias ao mesmo tempo. Nestes dias, por exemplo, o caso de Tenango ganhou espaço nos noticiários com a descoberta de quatro corpos em Zacatecas , que podem ser de quatro jovens desaparecidos no Natal ou com o desaparecimento de dois defensores dos direitos humanos em Michoacán, este para não falar em assassinatos a fio, em média 90 por dia, entre tiros, esquartejados, esfaqueados...

Moradores de Tenango del Valle caminham ao lado do salão de festas.ILHAS MÔNICA GONZÁLEZ

Uma montanha de sujeira

Antes usado como salão de festas, o galpão El Pozolero em Tenango hoje apresenta um buraco do chão ao teto na parede lateral direita. Foi a solução que os pesquisadores encontraram para introduzir uma escavadeira, capaz de quebrar a placa de concreto de 20 centímetros que cobria o piso. Um monte de terra agora cobre parcialmente o buraco na parede, lama que os agrimensores desenterraram do chão do porão na semana passada.

Do alto da montanha de terra avista-se a parte principal do armazém, a pista de dança, agora sem o concreto, mal escavada. Os especialistas concentraram seus esforços na outra parte, algumas salas que ficavam na parte de trás do prédio. Os especialistas localizaram os sacos com restos humanos entre um metro e meio de profundidade, embora tenham cavado um pouco mais, até dois metros, para o caso de encontrarem novos restos. 
Além disso, "foram feitas covas de teste em várias partes do terreno para descartar a possibilidade de haver restos em maior profundidade", explica uma fonte familiarizada com as investigações.

No restante da propriedade, "foi usado um georadar com o apoio da Comissão de Busca de Pessoas do Estado do México, que marcou o terreno com irregularidades em grande parte do terreno, para o qual todo o piso foi levantado e revistados em todo o interior do armazém”, refere a mesma fonte. Da montanha de terra, tudo está calmo agora, como se nada tivesse acontecido ali. No solo distinguem-se vestígios de cor amarelo-acastanhado, como cal madura.

Além do depósito de Tenango, El Pozolero e seus homens deram a localização de outros dois locais que utilizavam para sua atividade criminosa, ambos em Toluca e sua área metropolitana, a meia hora do depósito. No momento, as autoridades não relataram descobertas semelhantes nesses pontos. Eles também não disseram se há mais do que esses três. 

Dada a história do salão de baile, as perguntas se acumulam: por que eles os esconderam aqui? 
O que eles fizeram com aqueles corpos? 
Ninguém sabia de nada?

Tal como o seu Nápoles, os camponeses que passam pela rua do armazém dizem nunca ter visto nada de estranho. “Lembro que uma vez algumas mulheres estavam nivelando o piso da entrada”, conta Raúl Rojas, 48 ​​anos. Refere-se ao espaço frontal, em frente à porta, onde estão agora estacionadas a ambulância e as restantes viaturas das autoridades. 

“A gente passa por aqui quase que diariamente e é muito tranquilo. De vez em quando vem um garotinho buscar eles aqui, mas nada”, conta. Refere-se a algumas cervejas.
Algo semelhante conta Juan García, 62 anos, que embala grama em uma milpa próxima sob um sol vertical. “Sou natural daqui, de Tenango, e passo todos os dias às 7h45 para ir trabalhar numa fazenda ali”, diz, apontando para um ponto não especificado além da rodovia que segue para o sul, em direção a Tenancingo. “E a verdade é que sempre vi a sala fechada, nunca vi nada”, diz.

As investigações continuam, afirma a Promotoria do Estado do México. Nesta semana, um juiz indiciou El Pozolero e seus capangas por tráfico de drogas. Em buscas nas casas da quadrilha, as autoridades encontraram pacotes de drogas. O juiz também processou El Pozolero por sequestro. A Promotoria acusa o suposto criminoso de manter uma mulher em cativeiro em Tenancingo em agosto. Ele e seu grupo cortaram pedaços dos dedos da mulher.

FONTE   

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