(REPRODUÇÃO) Para quem acredita em simbolismos, os acontecimentos destes primeiros dias de 2021 mostram quem manda (e, principalmente, quem continuará mandando) na China.
Na queda de braço entre o capital e a capital, Pequim segue no topo.
Ma criticou o sistema regulatório chinês, numa conferência em Xangai, afirmando que o excesso de controle poderia sufocar a inovação.
Depois, em dezembro, reguladores chineses anunciaram uma investigação contra o Alibaba por supostas práticas monopolistas.
Até que o fim do ano chegou, e o sumiço de Ma começou a ficar visível demais para um empresário conhecido por imitar celebridades como Michael Jackson nos eventos anuais de seu conglomerado. Ma desapareceu até de um reality show criado por ele mesmo, o Africa’s Business Heroes.
Ma não fez nenhuma aparição pública ou postagem nas redes sociais desde o final de outubro, pouco mais de uma semana antes de uma tão esperada listagem no mercado de ações da afiliada financeira do Alibaba , Ant Group, ser bloqueada no último minuto pelos reguladores chineses.
O Ant Group deixou de preparar a maior oferta pública inicial do mundo para receber a ordem de reformar grandes áreas de seus negócios. Os reguladores chineses criticaram a empresa por afastar os rivais do mercado e prejudicar os direitos do consumidor.
O cerco a grandes empresários é, por assim dizer, uma prática do Partido Comunista Chinês.
No fim de 2015,
Guo Cuangchang , dono do
conglomerado Fosun, foi detido para prestar esclarecimentos à polícia. Por dias ficou incomunicável com seus executivos. O Fosun, assim como o Alibaba, estava numa agressiva estratégia de expansão nacional e internacional, com negócios em seguros e até entretenimento, com a compra da companhia Cirque Du Soleil.
Anos atrás a revista Forbes calculou que um bilionário chinês morria a cada 40 dias – entre as principais causas de morte estavam suicídio e assassinato. “O chamado modelo chinês vive uma constante contradição entre a liberdade econômica e a crescente centralização política. Essa contradição se acentua nas maiores empresas do país, sobretudo naquelas com aspiração global”, diz o investidor Diogo Castro e Silva, experiente no ambiente de negócios chinês.
A agência
Bloomberg diz que
o governo “perdeu a paciência com Ma”, e que recomendou ao empresário não deixar o país.
Outro símbolo de prosperidade,
Ma Huateng, dono da holding Tencent, também tem sido alvo de constante escrutínio. A China é um lugar arriscado para investidores? Em nenhuma outra grande economia o sucesso empresarial é visto como uma ameaça tal qual na China.
O sumiço de Jack Ma é marcante para iniciar uma década que deve consolidar a China como a maior economia do mundo. As previsões mais recentes, divulgadas esta semana, indicam que o país deve ultrapassar o PIB dos Estados Unidos em 2028, e não mais em 2033, como projeta a consultoria britâica Centre for Economics and Business Research.
A partir de 2021, a consultoria calcula que a China deve crescer anualmente cerca de 5,7% até 2025.
O ano de 2021 marcará também o
começo do novo Plano Quinquenal chinês. Com o mote de fazer o mercado interno e externo “se complementarem”, segundo Xi, o plano traz de forma clara que a guerra comercial com os EUA deve perdurar.
A pergunta número 1 é se um país que coloca o controle político à frente da economia será capaz de não só assumir como de manter a dianteira econômica global. É mais fácil descobrir onde está Jack Ma do que responder a este enigma.