28/10/2021 às 09h47min - Atualizada em 28/10/2021 às 09h33min

Você é proibido de ser infeliz; a falácia da vida virtual

Jacson Carvalho

Jacson Carvalho

Jacson é Jornalista formado pela Faculdade Luterana Bom Jesus Ielusc. Foi repórter policial, apresentador de TV, Editor Chefe do NN em Toronto-Canada.

Jacson Carvalho
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Você já percebeu que nas redes sociais todos parecem ser felizes? Tudo é tão lindo, cheiroso, gostoso, caro, romântico e inteligente? Parece ser uma obrigação ser feliz, ninguém tem dor de barriga, dívida, decepção, frustração e qualquer outro problema normal de um ser humano. 

Mas postar coisas ruins daria audiência? Certamente não, alguns poucos responderiam com uma carinha de tristeza, mas você não teria a melhor métrica dos resultados digitais em alcance. Esta obrigação, esta ideia construída pelo mundo pós-moderno cria uma série de exigências que nem todos estão preparados para enfrentar, ou atingir esta “meta”, de ser feliz.

Na verdade, a felicidade sempre está relacionada às coisas simples da vida. Note uma criança ao escolher um presente, ela nunca procura o mais caro, procura o que lhe satisfaz, o que lhe proporciona um encontro entre o objeto e o momento em que ela vai estar com aquele brinquedo. Nós adultos complicamos tudo, porque criamos um selo, um marketing que não é satisfatório nem para nós mesmos e reproduzimos isto, a fim de criar ou reproduzir um padrão. 

Isso não passa de pinguim de geladeira, o macaquinho de cortina, do tênis com luz, com roupa de grife. A felicidade está num gesto simples, no sorriso, no bom dia, na serenidade do mar, do sol ao se pôr na montanha. São símbolos tão simples, tão lindos, que poucos percebem.

Mas que mal tem em ser um padrão social? Esta exigência, na maioria das vezes, resulta em frustração. Pessoas buscando ser o que não são e buscando ter o que não podem. Este resultado está no alto número de inadimplência no Brasil, de pessoas depressivas, de suicídios, do aumento de venda de remédios controlados. Não precisa ter dados precisos para notar que se inauguram mais farmácias perto da sua casa do que livrarias, cinemas e parques. 

Mostrar o que você tem e outro não é se sentir superior, ego, puro ego. Mas como ter uma atitude diferente se muitos de nós fomos criados assim, mundo capitalista este que nos ensinaram que boneca original é extremante melhor, superior a réplica, mesmo esta réplica sendo homologada pelos órgãos de controle.  A publicidade infantil esmagadora, invasiva na maioria das vezes, pega uma criança em desenvolvimento e insere no meio de um desenho animado a obrigação de que aquele produto é necessário para vida. Fomos projetados para usar o antolho, não temos visão lateral, amplitude dos olhares do mundo.

Sair do mundo superficial, de futilidades exigem alguns exercícios. Comece de forma leve, saia do trivial. Fotos no mirante, em Balneário Camboriú, do café chique, da trilha, do alpinismo, nem sempre condizem com sua realidade. Sua vida em seu cotidiano não é um grande álbum com edições carregadas de filtro. Mostre sua vida, o que realmente é, e talvez outras pessoas se animem a fazer o mesmo. Nós podemos mudar este padrão, podemos ser o início de uma revolução. 

Você já imaginou se cada cidadão com um celular na mão postasse um problema social todo dia? Um ponto de ônibus quebrado, uma vala aberta, um cachorro abandonado, uma estrada empoeirada. Já imaginou cada post dando uma sugestão de leitura, um uma dica de lazer, de passeio com a família, de uma receita saudável? Sim, podemos usar as redes sociais para despertar interesses, sacudir o comodismo e fazer outras pessoas felizes, mas não temos a obrigação de ser feliz o tempo todo. 

Vou parar de escrever, hoje estou com uma baita dor cabeça.

 
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